A moda do Choking Game!

28 de outubro de 2016

Os efeitos nocivos dos jogos de Internet para crianças e adolescentes.

Brincadeiras perigosas transmitidas em vídeo são a nova moda da internet. O caso do menino Gustavo Detter, de 13 anos, morto depois de participar do “jogo da asfixia” ou “choking game”, chamou a atenção de muitos pais e educadores, e a prática tem causado resultados fatais em vários países do mundo. O jogo consiste no desafio de provocar a asfixia até desmaiar, para experimentar sensações “fortes”. É importante salientar que entre adolescentes, uma forte ligação com os pais protege contra uma saúde psicológica deficiente e participação em comportamentos de risco para a saúde. Uma forte ligação com colegas também é associada com melhor saúde psicológica e competência social, mas, em contraste, é associada com maior participação em comportamentos de risco.

A partir desses fatos podemos sugerir vários fatores que prejudicam a criança e o adolescente que utiliza de forma abusiva o seu lazer através dos jogos na Internet.

  • Primeiro, podemos falar em isolamento e outros problemas sociais, um extenso estudo sobre meios eletrônicos e a família da “Kaiser Family Foundation” mostra um resultado interessantíssimo: 55% dos pais deixam os filhos pequenos, de 6 meses a 6 anos de idade, com seus próprios aparelhos de TV,videogames, computadores e internet, em geral no quarto das crianças, para que os primeiros possam ver em paz seus programas preferidos na TV. Isso significa um isolamento entre pais e filhos. Aliás, 33% das crianças daquelas idades têm TV no quarto, sendo 19% com 1 ano ou menos, 29% com 2 e 3 anos, e 43% com 4 a 6 anos, o que dá 91% das crianças com 6 anos ou menos 25% usam apenas para ver vídeos ou jogar videogames, isto é, 66% usam o aparelho de TV para verem programas. Aliás, 19% dos pais usam a TV para os filhos irem para a cama. Imagine-se um quarto infantil com uma criança indo para a cama com a TV ligada. Ela estará prestando atenção na tela, e não nos pais que a estão preparando para deitar, isto é, deixa de haver o contato entre pais e seus filhos, tão importante justo antes desses adormecerem.
  • Segundo, o prejuízo para a criatividade, sabe-se que os jogos eletrônicos, por apresentarem sempre imagens prontas, em geral sucedendo-se em rapidez vertiginosa, impedem a criação de imagens mentais próprias, prejudicando, com o tempo, a capacidade de criá-las interiormente. Isso é particularmente trágico com crianças, que devem passar pela fase de viver na fantasia. Uma criança que perdeu a capacidade de fantasiar não se comporta mais como criança sadia, provavelmente, será um jovem ou adulto com problemas psicológicos, de aprendizagem e sociais. Típico desse tipo de criança é a incapacidade de inventar constantemente novas brincadeiras, o que deveria ser absolutamente normal.
  • O terceiro fator é sobre o vício ou dependência. Não é difícil compreender por que ovideogame ou o acesso ilimitado à internet  Muitos adolescentes e crianças que fazem uso desses jogos entram num estado de excitação, devido ao desafio de ganhar e se identificam com os personagens que produzem sensações fantasiosas de euforia. Esse estado de excitação produz uma sensação interior especial, que comumente é denominada de “alta adrenalina”, e é essa sensação que vicia. Já houve muitas notícias de jovens que ficaram jogando horas e até dias sem parar, chegando até mesmo a morrer de exaustão. Por isso a Associação Médica Americana propôs a introdução de uma nova doença mental no rol das doenças classificadas, o vício em jogar videogames. Muitas pessoas pensam que isso só atinge os jovens e pessoas que já tinham predisposição para se viciarem, como por exemplo, em jogos de azar. De fato a extensão do problema mostra que os videogames e a internet podem viciar qualquer um.
  • O quarto fator é a não aceitação a regras e normas Uma criança ou adolescente usando a internet sem controle por parte de pais ou responsáveis pode fazer acesso a todo tipo de dado, o que caracteriza uma educação sem limites, nas idades entre 8 e 11 anos, há muito pouca compreensão para os perigos de estar em rede, considerando tudo muito efêmero. No caso entre 12 e 14 anos, compreensão ainda muito limitada, e muita imaturidade a respeito. Entre 15 e 18 anos, uma compreensão verdadeira limitada, ainda com imaturidade e tendência de ‘esquecer’ os perigos impulsivamente. Eles simplesmente não tem a maturidade e o conhecimento necessário para terem discernimento; além disso, não tem o autocontrole necessário para evitarem coisas atraentes mas impróprias para sua cultura e maturidade – por isso precisam ser orientados continuamente por pais e professores! Aliás, crianças e adolescentes sabem, pelo menos inconscientemente, que precisam ser guiados, e no fundo ficam felizes quando sentem o apoio de pais e professores. Ao contrário, têm uma frustração muito grande quando são deixados com excesso de liberdade, isto é, a permissividade prejudica e os faz sentirem-se abandonados, e isso também é negligência.

Muito pais não estão controlando o uso que fazem da internet nem deles e nem dos filhos, já que com os smartphones e tablets tornaram-se acessíveis a qualquer hora e lugar, mesmo em situações em que é exigida extrema atenção, com perigo de vida. E se os pais não estão controlando nem mesmo em casos extremos como os relatados, obviamente isso trará consequências sérias para as crianças e adolescentes, pois eles estão em pleno desenvolvimento. É muito possível que esse desenvolvimento seja prejudicado para toda a vida, isto é, estamos formando uma geração de pessoas sem força de vontade e autodisciplina, incapazes de serem suficientemente maduros e bem resolvidos. A medida preventiva mais imediata é monitorar o que os filhos fazem na web e em seus momentos diários, até para conhecer melhor o que pensam, como se expressam, com quem se relacionam, a quais práticas aderem. E esse monitoramento pode ser feito de forma atenciosa, carinhosa e respeitosa. Abrindo espaço também para uma melhora na relação familiar e consequentemente na saúde e vida dos nossos ainda Humaninhos.

 

 

Daniela Rita de Souza
Psicóloga Infantil e Terapeuta Familiar – Clínica Humaninhos

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