Quando as crianças não dormem...

4 de julho de 2016

Um bebê que não adormece pode levar qualquer um dos pais ao desespero. Na base deste problema estão os maus hábitos adquiridos. A permissividade somada ao ritmo frenético dos pais modernos abre as portas às perturbações no sono que podem custar caro à criança e aos pais. Disciplina e amor firme são as únicas formas de lidar com este problema.

O cenário já é de pesadelo. Todos os dias, a história repete-se: são quase duas da manhã e ainda estão os pais a tentar adormecer o bebé; no dia seguinte têm que levantar-se às sete da manhã, mas nem por isso a criança dá sinais de querer ceder.

Muitos de nós conhecemos ou vivemos situações como esta. Em certos casos, o princípio da noite é o momento mais temido do dia. Aquelas que deviam ser as horas do “descanso do guerreiro tornam-se nas horas de batalha das crianças contra o sono. Uma situação que devia ter tanto de natural como a hora de jantar ou do banho, ganha contornos que parecem incontroláveis e que afetam todo o dia a dia dos envolvidos

Os pais não percebem como é que chegaram a este ponto. É vulgar ouvir dizer que determinado bebê nunca dormiu bem; ou que, depois de ter passado a dormir sozinho, nunca mais teve um sono descansado; ou ainda, que tudo mudou com o nascimento de mais um irmão. Por mais verosímeis que pareçam as justificações, a verdade é bem mais simples. Na base de quase todos os problemas relacionados com o sono dos bebés estão os maus hábitos adquiridos.

Princípio dos problemas.

As crianças sabem jogar com as situações, vão sempre até onde sabem que podem ir. Impor o limite cabe aos pais, daí a importância das regras, quando não existe uma hora estabelecida para ir para a cama, ou quando essa hora não é cumprida, é normal que uma criança, ou mesmo um bebé, explore o cenário até ao limite.

O mesmo pode dizer-se em relação às histórias para adormecer ou às canções de ninar: em vez de uma ou duas, contam-se ou cantam-se as mesmas histórias e canções vezes sem conta.

Da mesma forma, se o bebé sente a companhia da mãe ou do pai durante o sono, não vai desistir até que isso aconteça. Esta situação está na base de vários casos de sono interrompido: a criança acorda para se certificar que o progenitor ainda está lá.

Um cenário semelhante é o da criança que exige a presença de alguém até adormecer. É frequente ouvirmos uma mãe queixar-se de que ficou meia hora de mão dada com o filho até que este adormecesse. As crianças utilizam estes últimos minutos antes do sono como uma espécie de “horário nobre”: é o momento em que têm todas as atenções concentradas em si.

Esta necessidade de atenção não deriva necessariamente de um ambiente instável, mas pode agravar-se nesses casos. É frequente que o sono se torne mais agitado e interrompido. Muitas vezes os pais pensam que os filhos não os ouvem a discutir porque estão distraídos brincando ou vendo televisão. É preciso ter em mente que, mesmo que não o digam, as crianças sentem quando algo não está bem. Além do mais a própria entrega à televisão pode ser uma fonte de problemas.

Um estudo feito por um hospital pediátrico norte-americano concluiu que as horas passadas vendo televisão são responsáveis por vários tipos de transtorno do sono. Estes efeitos agravam-se se a criança tiver um aparelho de televisão no quarto. Quando a presença do aparelho se torna indispensável na hora de adormecer, estamos face ao pior cenário possível. Os problemas causados pela televisão associam-se de forma direta à resistência aos horários estabelecidos, à dificuldade em adormecer e à ansiedade antes da hora de ir dormir e consequente encurtar da duração dos períodos de sono. Outra investigação estabeleceu uma relação de causa e efeito entre o visionamento de programas de televisão até à hora de dormir e a ocorrência de pesadelos e de sonambulismo.

As consequências

Todos sabemos que o sono é essencial à vida. Quando dormimos mal, o nosso organismo vinga-se. O mesmo sucede com os bebês e com as crianças. Quando os problemas do sono ocorrem com persistência, passam a interferir nas atividades diárias e no comportamento dos mais novos.

Se um bebê está rabugento, poderá ser por falta de sono. Quando o problema é constante, é natural que a falta de paciência e o mau humor se agravem. Podemos dizer o mesmo acerca da falta de concentração, do fraco rendimento escolar e da consequente frustração. Uma criança cansada torna-se mais vulnerável e ansiosa, passa a ter um comportamento mais impulsivo e emocional.

Os pais também se ressentem. Além do cansaço físico e emocional, esta situação pode causar instabilidade entre o casal. Acusações mútuas e insegurança passam a pertencer ao cotidiano. O sentimento de culpa é frequente, bem como a frustração e a sensação de impotência.

Soluções

As crianças têm uma grande capacidade de adaptação. Tal como adquirem maus hábitos, podem adotar uma rotina correta. Mesmo que a princípio resistam (e há bebés e crianças especialmente difíceis), é tudo uma questão de pulso firme e de disponibilidade. Os pais são os responsáveis por impor e fazer cumprir um conjunto de regras, por estabelecer uma rotina e por criar um ambiente propício à chegada do sono.

Calcula-se que três em cada dez crianças sentem dificuldade em adormecer ou têm um sono pouco descansado, seja devido a pesadelos, a sonambulismo ou a outros fatores. O limite etário para esta situação são os cinco anos. No entanto só em casos extremos será preciso esperar até essa idade. Porque com a dose certa de disciplina é possível dar a volta ao problema e, até mesmo, preveni-lo.

 

A importância da sesta

As crianças vivem cada vez segundo os horários dos pais. Se há 30 ou 40 anos as mães estavam em casa e podiam gerir o dia-a-dia de acordo com as necessidades dos mais pequenos, hoje essa organização é praticamente impossível. Para que possam passar algum tempo na companhia dos pais, os pequenos acabam por ir para a cama muito mais tarde do que o recomendável.

Com o risco de os dias se tornarem demasiado longos e cansativos, a sesta passou a ser um hábito ainda mais importante. É que as crianças não conseguem dormir todas as horas de que necessitam durante a noite e os dias são cada vez mais compridos.

O descanso é fundamental para o equilíbrio da criança. Quando dorme, sonha, e esse sono “recarrega” as baterias do sistema nervoso. Quando acorda está mais bem disposta.

Mesmo que os pequenos resistam a dormir depois do almoço, há que insistir. Deve criar-se um ambiente propício ao descanso: tranquilidade, temperatura agradável e conforto. É importante deixar entrar alguma luz no local da sesta para combater os medos típicos da idade e para distinguir o sono diurno do sono noturno. Mesmo ao fim de semana devemos manter as rotinas. Em casa ou na escola a sesta é indispensável. É possível, no entanto, abrir exceções. Mas atenção, há que ter cuidado para que a exceção não se torne regra.

O período de descanso vai ficando mais curto de forma natural. As necessidades variam de caso para caso. Por volta dos cinco anos é normal que a criança já não queira dormir. O hábito perde-se de forma definitiva quando os pequenos entram para o primeiro ano de escolaridade.

Preparar o terreno para o sono

Para evitar eventuais problemas no sono, a chave está na prevenção. É tudo uma questão de amor firme.

  • Estipular um horário para dormir e cumpri-lo. Mandar a criança para a cama e acordá-la sempre à mesma hora. Atenção que nem todos os pequenos têm a mesma necessidade de sono.
  • Preparar o terreno com um banho relaxante e com um ambiente tranquilo.
  • Iniciar um ritual simples para a hora de dormir, tal como contar uma história ou conversar sobre os acontecimentos do dia.
  • Incentivar a discussão de qualquer experiência assustadora ou perturbadora que possa ter acontecido durante o dia. Estes episódios podem ser muito significativos para as crianças mais sensíveis ou impressionáveis.
  • Para tranquilizar os mais medrosos, deixar a porta entreaberta e uma luz acesa durante toda a noite.
  • A maior parte dos pequenos gosta de ter a companhia de um boneco macio durante o sono. Incentivar atividades físicas rigorosas durante a manhã ou à tarde.
  • Evitar programas televisivos assustadores antes da hora de dormir.
  • Evitar dar estimulantes, tal como bebidas que contenham cafeína ou açúcares refinados.
  • Não servir refeições pesadas ao fim da noite. Se for necessário, antes da hora de dormir, dar um lanche leve à criança, como um copo de leite. Caso o problema persista, é melhor consultar um psiquiatra.

 

Adaptado do texto de Joana Stichini Vilela, na revista XIS de 17 de janeiro de 2004

Voltar
O esporte para a criançaOs erros da escovação