Quando uma criança adoece ou apresenta algum problema de comportamento, logo a família se preocupa e busca, através dos cuidados médicos e/ou psicológicos, tentar resolver aquilo que no filho se apresenta e muitas vezes na família, na escola e na vida social se denuncia e se incomoda.
Depois de levar a criança ao tratamento específico e necessário, nem sempre ela obtém melhora significativa, ou, se piora logo após o tratamento, demonstra recaída ou deslocamento do seu sintoma. E então a família novamente e de forma muitas vezes recorrente, procura outro tratamento ou profissionais.
O que é importante salientar é que a maioria dos problemas enfrentados pela criança é decorrente da dinâmica familiar na qual está inserida. E como cita o psicanalista Lacan: “O sintoma da criança se encontra no lugar de responder àquilo que há de sintomático na estrutura familiar… O sintoma nesse contexto se define como representante da verdade… O sintoma (da criança) pode representar a verdade do casal”. A verdade do casal, a criança denuncia sem saber: os caminhos percorridos pela energia pulsional dessa família.
Mas o que isso quer dizer? Para esclarecer o sintoma, embora seja sempre uma reação de saúde, na verdade, é uma solução precária, pois ao ser um compromisso, um “dar um jeito”, o sofrimento diante do automatismo de repetição tende a aumentar. O sintoma é e sempre será uma saída, embora falsa, de saúde.
A doença ou o problema de comportamento, nesse sentido, funciona como um sintoma que denuncia um estado psíquico resultante de como a criança foi concebida, gerada, alimentada e mantida em seu desenvolvimento psíquico.
Antes da criança cair ao mundo, as questões da família (dificuldades, desejos, sentimentos) já se encontram com a base construída. As crianças acabam sendo efeitos dos problemas dos pais (ou cuidadores), principalmente por serem estes os principais personagens a mostrar-lhes o mundo e fornecer-lhes sentido a este.
O dilema entre ter de responder às expectativas dos pais e o vislumbre de poder se despertar para o desejo próprio desencadeia uma cascata de infinitas patologias possíveis.
E o tratamento, como fica? O tratamento apenas com a criança seria eficiente? Bom, se pensarmos que o ambiente na qual está inserida a criança não mudará após as sessões, dificilmente pode-se pensar num trabalho que não seja em conjunto com os pais.
Ao levar em consideração que a criança é um sujeito em desenvolvimento e dependente dos cuidadores, a construção fornecida por eles dependerá do quão saudável lidam com seus próprios conflitos.
Dessa forma é imperioso que os pais saibam da importância de estarem presentes e atentos no tratamento dos seus Humaninhos. Necessitando talvez que eles se comprometam a mudarem o que for necessário, seja no ambiente físico, seja no ambiente emocional e psicológico da relação familiar.