Muitos pais perguntam no consultório: “acha legal termos um bichinho de estimação?”. A minha resposta é: depende.
Se o casal tem um filho pequeno, sugiro esperar a criança fazer 4-5 anos para ter um gato ou cachorro, para que assim os cuidados com o bichinho sejam divididos com a criança e já se faça um “link” com organização e responsabilidade. Além disso, nessa idade, a criança tem mais senso de perigo e sabe como brincar com o animal.
A escolha da raça ou se vai ser sem raça (adotado) depende do perfil da família. Vale a pena pesquisar as características de cada raça e os cuidados necessários para que não seja um motivo de estresse na família.
Se o bebê nasce numa família que já tem um bichinho de estimação, a questão é adaptação. Habitualmente cães e gatos convivem bem com bebês, mas é sempre bom saber quais são os potenciais riscos da aproximação entre um bichinho e uma criança tão pequena. Recomendo cuidados básicos de higiene e alguma distância de contato íntimo com o animal, evitando as lambidas, por exemplo.
Antes de o bebê nascer, o cachorrinho pode ser condicionado a cumprimentar de longe e, ao chegar da maternidade, deixar um paninho com o cheiro do bebê na cama do cão (principalmente se for fêmea) e nessa chegada, lembre-se de entregar o bebê a alguém e ficar um pouco com o cachorro, com certeza ele estará com saudades. Uma dica legal é deixar o cachorrinho cheirar o pé do bebê de vez em quando.
Já os gatos costumam observar de longe a novidade, mas a curiosidade vai fazer com que se aproximem alguns dias depois, e apesar de não terem um perfil de ciúmes e tenderem a fugir da criança se está incomodado, alguns podem morder ou arranhar. Cuidado com as unhas dos gatos e evite o contato próximo. O problema maior com gatos é conseguir evitar que ele entre no berço. Uma opção é usar um tipo de mosquiteiro com elástico quando o bebê estiver no berço ou no carrinho. Uma dica interessante é colocar papel-alumínio dentro do berço antes de o bebê nascer. Se o gato entrar, vai se assustar com o barulho e muito provavelmente não vai querer entrar lá de novo.
Enquanto o bebê é bem novinho, é fácil mantê-lo razoavelmente afastado do cachorro da casa. Evite que o cão ou gato entre no quarto da criança (portão de alumínio é útil para cães, mas para gatos não funciona) e não os deixe com o bebê na mesma cama ou sofá. Dar bastante atenção ao cachorro pode ajudar a evitar que ele fique com muito ciúme.
Nunca deixe o bebê sozinho com o cachorro ou o gato, principalmente quando a criança começar a engatinhar. Se o bebê puxar o pelo ou o rabo do cachorro, pode ser que uma mordida seja a única forma do animal se desvencilhar. Outro cuidado é não aproximar o rosto do bebê ao focinho do cachorro; o “olho no olho” pode ser encarado como uma ameaça pelo animal. Lembrar que quando o cachorro estiver se alimentando, a criança deve ser orientada a não mexer nele.
Somente com crianças maiores, acima de 8 anos, orientamos que faça higiene ou tenha contato com o cocô e xixi dos animais domésticos. A partir desta idade, eles já podem ajudar nesta tarefa também. Se você tiver quintal, recolha sempre o cocô do cachorro antes de deixar seu filho brincar lá fora.
Mantenha o animal de estimação sempre vermifugado (recomendado a cada 6 meses) e vacinado e com consultas periódicas com o veterinário.
Ter um bichinho de estimação precisa ser uma decisão da família, com tarefas divididas e uma curtição para todos!
Escrito por Carolina Freire, pediatra da Humaninhos.